sexta-feira, 8 de junho de 2007

23 de Maio de 2007. O dia histórico da desertificação repentina da Margem Sul

E eis que abro um dia o jornal e verifico que afinal resido no deserto.
Lógicamente pensei que o meu estado mental é decididamente grave e estou a viver em permanente estado de alucinação, o que é estranho porque me parece colectiva. Ia jurar que fiz compras ontem no Jumbo de um sítio chamado Fórum Almada e que as outras pessoas que lá estavam me pareceram bastante reais. Estava capaz de por as minhas mãos no fogo em como tive o meu filho mais novo no Hospital Garcia de Orta...ou se calhar não, visto que só há uma ou duas maternidades em Portugal, não é? Pois... todas as outras estão fechadas.

Bom, ou tomei o red pill do Matrix, ou o Ministro das Obras Públicas tem uma lacuna. Não passa férias na Quinta do Lago. Todo o seu universo se resume a Lisboa, Cascais, Sintra e Ericeira. Toda a sua época balnear é passada na Praia das Maçãs (atenção que nada tenho contra os locais que referi, até gosto bastante de lá ir e também não sou da CDU, apesar de residir na Margem Sul). Mas parece-me que poderá ser esta a razão pela qual Mário Lino só conhece a Ponte 25 de Abril de fotografia, não se apercebendo assim que há vida depois da ponte.

Depois de ler que "Na margem sul não há cidades, não há gente, não há hospitais, nem hotéis nem comércio" achei a terceira hipótese a mais credível; opinião que ficou automáticamente reforçada pelo facto de ler que as declarações de Mário Lino tinham sido feitas depois do almoço.

Só assim é possível explicar alguns items do seu discurso sobre o novo Aeroporto Internacional que me enterneceram. Gostei particularmente das condicionantes ambientais. Algo me leva a crer que a nível ambiental existam razões mais sérias do que o risco de colisão com aves, para não ser viável a construção do Aeroporto na Margem Sul. E confesso, estou maravilhada. Não há aves a Norte, depois de se passar a Ponte 25 de Abril. O que este homem num só dia contribuiu para a minha cultura.

Como sou pela paz e pela nobreza de sentimentos, acho sinceramente que a população da Margem Sul deveria mostrar ao Sr. Ministro que a palavra rancor não faz parte da nossa conduta. Deveríamos enviar-lhe um convite para inaugurar o Metro Sul do Tejo, complementada por uma visita guiada a toda a região sul do país assinando por baixo "com carinho, da população fantasma". O mundo dele não mais seria o mesmo.

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